quarta-feira, 2 de abril de 2008

Antropofagia Cultural e a evolução das espécies


O futebol funciona como uma espécie de resposta aos hábitos culturais de uma nação. Ao praticá-lo, cada população reage de um modo ao esporte, seja na maneira de jogar ou de torcer. Em um mundo onde as fronteiras parecem desaparecer, como aponta o filósofo Pierre Lévy, o futebol assume o papel de ser um “meio-de-campo” no processo de interação entre diferentes culturas. É indiscutível que a simbologia é marca registrada do futebol. Imagens ganham significado e propiciam a comunicação entre as pessoas. O futebol é uma arte, assim como diversas outras que se conhece que surgiram e se desenvolveram como parte da cultura de um povo. A partir dessa identidade, dessa cultura própria de cada nação, é que se desenvolve a ginga dos jogadores brasileiros. O jeito “moleque”, próprio das nossas raízes, denuncia a nossa maneira de pensar, viver e sentir. O samba, a capoeira, a imensurável miscigenação de cultura e de cor desta veia latino-americana, com certeza, contribuíram para o Brasil ser conhecido no mundo todo como “futebol arte”. É como a teoria da evolução das espécies. O Brasil é o supra-sumo do futebol, exatamente por ser um resultado do cruzamento de negros, índios e europeus. Contudo, é importante lembrar que o futebol não nasceu com essas características. Ao contrário do que muitos pensam, o futebol não nasceu na Inglaterra. Na China Antiga, por volta de 3000 a.C, os militares chineses praticavam um jogo que na verdade era um treino militar. Após as guerras, formavam equipes para chutar a cabeça dos soldados inimigos. Na Itália medieval apareceu um jogo denominado gioco del cálcio. E, na Grécia, por volta do século I a.C., um que se chamava Episkiros, ambos similares ao futebol, porém, bem mais agressivos. A Inglaterra, berço da Revolução Industrial, roubou a cena e acabou levando o crédito pela criação do futebol no século XVII. Nada de anormal. A história do mundo parece ser sempre contada or quem vence as guerras. Aliás, por falar em guerra, não dá para esquecer que o futebol também já foi usado por políticos como forma de se promoverem. Quem não se lembra da primeira Copa do Mundo que comemorou o centenário da independência do Uruguai? Que a segunda edição do torneio, realizada na Itália, promoveu o regime fascista de Benito Mussolini? E da escolha da Suíça como sede em 1954, pois o país ficou neutro durante a Segunda Guerra Mundial? Ou das “operações” montadas pela Inglaterra paraser campeã em 1966 e pela ditadura Argentina para ganhar a Copa de 1978? Longe dos privilégios, o Brasil deglutiu a cultura estrangeira e a transformou em cultura nacional. Num país onde há tanto descaso com o bem estar da população, onde a cultura política e social é tão vazia e estéril, o futebol chega como o enxerto de almas. Quem sabe, um dia, a alegria do povo brasileiro não se aflore apenas de quatro em quatro anos, quando acontece a Copa do Mundo.


Felipe Ravizon

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